Babel

Babel vinha com a tagline “Ouçam“. Eu mudaria para “Vejam“.

Acabei de chegar do cinema, completamente petreficado com Babel. A dulpa responsável por Amores Perros e 21 Grams (dois dos meus filmes favoritos), Alejandro Ganzález Iñárritu (realizador) e Guilhermo Arriaga (argumentista) voltou este ano com o último filme da Trilogia da Dor (como o realizador lhe costuma chamar).

Babel vem na linha dos seus antecessores. Histórias que se relacionam; desconcertos temporais; a fragilidade da natureza humana… não sendo melhor do que os anteriores, Babel é um valente soco no estômago. Um choque de culturas, um manifesto anti-armas, uma história de amargura.

Um tiro disparado por um rapaz em Marrocos, provoca um ricochete em vários outros locais no mundo. Richard (interpretado por Brad Pitt) vê a seu lado a sua mulher, Susan (Cate Blanchett) ser atingida por esse mesmo tiro. Na América, o seus filhos são levados pela ama até ao México, onde se realizará o casamento do filho. Do outro lado do mundo, no Japão, Chieko (Rinko Kikuchi), uma surda, vê a polícia envolvida num caso que remonta a seu pai. Quatro histórias completamente diferentes, mas cuja origem é a mesma. Um ensaio sobre as várias formas e potencialidades do amor, um conto sobre a sorte e o azar, a força e a fraqueza.

babel2.jpg

O filme é violento do ponto de vista emocional. Cola-nos ao ecrã e, quando damos por nós, estamos a imaginar a vida daquelas pessoas tão diferentes de nós, e entre elas, como se fosse a nossa. Mais de que um simples filmes, Babel é mensageiro da natureza humana e dos seus sentimentos. Por muitos vezes acusado de forçado (devido às semelhanças com os filmes anteriores), Iñarritu e Arriaga tomam em Babel uma postura mais extrema do que nos filmes anteriores. Sou fã de 21 Grams e Amores Perros, e agora também de Babel. Embora concorde que, em alguns aspectos, a história deste filme não seja tão coesa e que encaixe tão suavemente quanto as anteriores, vejo-o como um terminar duro e frio acerca de temas que merecem esse desígnio. Olhando para os filmes sobre uma prespectiva de trilogia, completam-se e unificam-se num conto sobre perda, arrependimento, comunicação, amor e morte.

Muito se poderia apontar sobre o significado de Babel. A torre em que todos falam, mas onde ninguém se entende. Um mundo disperso e fragmentado, onde cada um vê, comunica e sente de uma maneira muito única, imperceptivel a quem o rodeia. Uma visão generalizada do mundo de cada um. As relações entre gerações, entre amigos, entre desconhecidos. Tudo isto focando cada um destes temas em situações e locais totalmente distintos. Damo-nos conta do preconceito, da xenobofia… do carinho e do afecto… do acolhimento… da repulsa. Babel é tudo isto. Mas pode não o ser. A maneira como cada um vai olhar e sentir o filme vai depender também da sua cultura, da sua visão do mundo em geral e do seu em particular. É um filme para todos… e para ninguém.

Na realização Iñarritu é quase irrepreensível, embora em alguns momentos peque pelo prologamento demasiado de algumas cenas ou situações. Arriaga é que neste momento está, na minha opinião, a morder os calcanhares de Melhor Argumento Original a Little Miss Sunshine nos Oscares (só disse morder!!!). (ainda não vi El Labirinto del Fauno…).

Brad Pitt é que está num grande momento. Depois de ter deixado de lado a possibilidade de entrar em The Departed devido a querer mesmo entrar neste filme, brinda-nos com uma excelente prestação, com um grande expressividade emocional, capaz de nos fazer chorar de tristeza ou rir de alegria por tamanha interpretação. Embora não esteja nomeado para os Oscares (obviamente, até porque o seu papel é tão significante como outra qualquer personagem), é uma prestação digna de crédito! Kikuchi também está muito bem, desempenhando com astúcia e garra a personagem de uma muda com grandes problemas pessoais e de personalidade… embora não ache que vá ganhar a estatueta…

Babel é sem dúvida um dos marcos de 2006 para mim. Estreou tarde e ainda mais tarde perto de mim, caso contrário, entraria para o meu top pessoal do ano transacto.

Mas como as opiniões se dividem, percebo perfeitamente que não tivessem achado Babel à altura dos anteriores… eu próprio tenho-o no 3º lugar, mas daí a considerar Babel um mau filme… Se for visto como um só, o filme é muito bom! Se for comparado com os anteriores, é o “menos melhor”. Se for encaixado na trilogia, excelente.

Nota:

3 thoughts on “Babel

  1. Joana diz:

    É uma pena ainda ninguém comentar este filme…:o(

    Eu concordo consigo…

    O filme é . . . =)

    Ainda me lembro da forma como saí daquela sala de cinema… Atordoada e com a sensação que me tinham dado um soco no estômago… ****

  2. consigo? Por favor Joana, não me trates por você!!
    Pois, eu também gostei muito do filme, mas é um filme que divide muitas opiniões. Mas se os gostos fossem todos iguais, o que seria do amarelo?…

    Obrigado pelo comentário e volta sempre!

  3. thais diz:

    eu simplesmente adorei o filme…

Queres falar agora?