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Gone Baby Gone

Como já tinha dito quando escrevi aqui a minha opinião sobre Trade, já vi Gone Baby Gone, o primeiro filme com o actor Ben Affleck na cadeira de realizador. Como se não bastasse um Affleck no filme, temos ainda o seu irmão mais novo no papel principal… um filme familiar. Não que com isso retire algum brilhantismo ao filme, é apenas caricato. Mas indo directo à questão: Gone Baby Gone é um grande filme para um realizador inexperiente, capaz de fazer corar muitos dos habitués.

Vista pela Última Vez, em português, é um filme explorador dos sentimentos humanos e das suas próprias origens: o medo, a ansiedade, o desespero, a compaixão e o amor. Centra-se muito bem na problemática que trata, não deixa cair o tema nos lugares vulgares e revela até alguma audácia na forma como aborda as acções e consequências das mesmas no desenrolar da obra.

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Quando uma menina, Amanda, desaparece numa pequena localidade, a polícia rapidamente de apressa a tentar encontra-la. No entanto, a tia da criança não pensa que isso seja suficiente e decide contratar os serviços de dois detectives particulares: Patrick e Angie (Casey Affleck e Michelle Monaghan). Ainda que relutantes em aceitarem o caso, decidem ajudar na investigação da unidade policial liderada pelo capitão Jack Doyle (Morgan Freeman). Como residentes no local, Patrick e Angie tinham a vantagem de conhecer pessoas que não tinham por hábito falar com a polícia e, aos poucos, foram conseguindo informações valiosas para finalmente encontrarem Amanda. No entanto quando tudo parecia bem encaminhado, Patrick e Angie que agora trabalhavam lado a lado com os detectives Remy e Nick (Ed Harris e John Ashton), viram-se num beco sem saída onde nada parecia fazer sentido.

Sei que esta sinopse não é propriamente uma das mais esclarecedoras que já escrevi, mas é mesmo essa a intenção; não gosto de revelar muito sobre os filmes principalmente quando eles requerem o maior secretismo para funcionarem bem. Espero que o resto do texto vos deixe com água na boca…

Gone Baby Gone é mais do que um filme sobre um rapto; é um filme sobre os dilemas morais, sobre as escolhas que fazemos e nos definem, sobre o que é ser correcto ou não. É muito mais do que uma obra cinematográfica; é uma obra intimista que nos leva a perceber o “porquê” dos nossos próprios actos. Não é de forma alguma um filme intervencionista mas deixa a sua marca como se fosse: divide quem o vê, faz-nos reflectir e discutir sobre o problema e sobre as origens dele.

Por muito bom que o filme seja, grande parte desse “impulso” vem dos actores. Sem dúvida que, para além de o argumento ser muito bem organizado, eles deram um enorme contributo ao filme, fazendo com que nós próprios nos colocássemos na posição deles, debatendo com a nossa consciência a decisão que tomaríamos em determinada situação. Casey Affleck afirma-se, mais uma vez depois de interpretar Robert Ford no Assassínio de Jesse James…, como um dos grandes actores da sua geração, com grande capacidade de mutação e adaptação. Estou de olho neste miúdo! Por outro lado temos uma Amy Ryan mais do que fabulosa; dramática, emocional, verdadeira. Não é por nada que todos os prémios do ano a têm incluído nos nomeados ou vencedores. Mas a cereja no topo do bolo é certamente Ed Harris. Ó senhores, tudo bem que já sabemos que este homem é um grande actor, mas em Gone Baby Gone, penso que ele se tenha ultrapassado. Vejam com os vossos próprios olhos. Nota ainda para o tio de Amanda, Lionel (Titus Welliver) que também está muito bem.

Ben Affleck está muito bem. Não tentou nada muito elaborado (leia-se: cheio de coisas esquisitas totalmente desnecessárias) e com isso só ficou a ganhar. Não fazia a mínima ideia de que o Affleck mais velho fosse tão bom realizador. Parece que temos uma família de artistas com boas credenciais. Ahh e também deu o seu jeitinho no argumento, o que também só abona a ser favor.

Meus amigos, Gone Baby Gone pode não ser a obra cinematográfica do século, pode até não ficar “naquela lista dos melhores no final do ano” mas é certamente um filme praticamente obrigatório em 2008: pela forma como aborda a história, pelo excelente elenco e por ser o primeiro filme de Ben Affleck.

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