Slumdog Millionaire

Primeiro foram os dias vividos quase em agonia na espera de ver Slumdog Millionaire, depois foram os dias passados em reflexão sobre ele. Quem Quer Ser Bilionário, em português é, para surpresa minha, uma filme normal. Não há um final inesperado, não há diálogos intensos ou eruditos, não é inovador. Talvez “normal” seja um desígnio demasiado normal, mas à medida que o filme vai correndo é mesmo isso que nos parece. Mas como as aparências iludem, chegamos ao final com a sensação de que acabámos de ver um filme maravilhoso. Porque será? Já lá vamos…

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Slumdog Millionaire leva-nos até a uma Índia real (ou a parte dessa realidade), despida de manipulações ou eufemismos, onde Jamal Malik (Dev Patel), um jovem pobre, está à beira de concretizar uma proeza impensável: ganhar vinte milhões de rupias num concurso televisivo. Somos desde logo confrontados com a questão fundamental que alimenta todo o filme: Como conseguiu ele chegar ali? Terá ele feito batota? Será o destino? Sorte? Como ninguém acredita que ele tenha mesmo todo o conhecimento necessário para chegar tão longe no concurso, Jamal é preso na noite anterior à última pergunta, na tentativa de se poder provar que estava a fazer batota. E, para mais não revelar (apesar de não acreditar que seja uma grande novidade), é assim que o filme começa a desenvolver-se, com Jamal a explicar  o porquê de saber tudo aquilo.

Este é daqueles filmes que facilmente categorizamos como um drama alegre, uma comédia agridoce, um thriller sem twist final. Afinal não é assim tão fácil defini-lo, mas o que interessa realmente é o filme em si e não o que lhe possamos chamar ou como o podemos classificar. Slumdog Millionaire é um filme sincero, optimista mesma na desgraça e que, retratando uma história de amor, faz disso um épico fracturante sobre o poder da coragem, do amor, da amizade (ou falta dela), da vida. Melhor dizendo, é uma amostra que por si só terá tamanho suficiente para mudar uma vida, ou várias.

Numa abordagem que poderia ser um misto de Cidade de Deus meets Eternal Sunshine of the Spotless Mind, Danny Boyle faz de Slumdog Millionaire algo comovente, tocante e revoltante mas ao mesmo tempo inspirador, revitalizador e amoroso. Consegue-o porque o faz com alma e sem ambições desmedidas, filmando de forma arriscada, conseguindo assim mostrar toda miséria e desalento da Índia mas ao mesmo tempo também a sua genuinidade. Foca-se naquilo que é importante e, apesar do relevo dado à condição desumana da parte da Índia retratada, é na forma como acompanha os três personagens principais, e as suas aventuras, feitos e sonhos, que se distingue. Não conheço a história original mas devo dizer que, independentemente disso, o argumento é muito consistente e encontra na simplicidade o seu maior trunfo.

Fica o aviso: com tantos prémios e nomeações e atenções e elogios, Slumdog Millionaire corre dois riscos… o de desiludir por ser “normal” ou enganar e ser considerado uma obra prima. Não deve, no meu entender, ser tratado como nenhuma das duas alternativas. É “simplesmente” um filme que nos faz sair do cinema com as costas menos curvadas, o queixo mais levantado e um sorriso que perdura dias e dias.

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2 thoughts on “Slumdog Millionaire

  1. Já não sei o que esperar… Os Óscares são uma caixinha de surpresas, a maior parte delas negativas…

    • Estou na mesma posição que tu, não sei bem o que esperar. Se a maior parte das pessoas acredita que os Oscars serão algo óbvios, eu penso que haverá surpresas. Acho que Benjamin Button, por exemplo, vai ter mais prémios do que aqueles que se estima.

      Abraço

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